Wednesday

PAIXÃO


Um facho de fogo fátuo se encrespa em todo ser
Rumina bicho selvagem esfumaçando quente
Quer tocar o carmim florescente
Por debaixo do mel bel-prazer
Sol em cada olho, fechado interior
A lua então alumina a dor assim de chofre
Tal um touro redentor a penetrar o chifre
No lençol vermelho de se domador

Tuesday

OUVOLHO

Ouvendo o brilho da canção em máximo
Faz tapar olhidos num piscar de ouvolhos
Sussurra em minhas pálpebras
Imagens tristes
Até lágrima escoar ao lóbulo
Pingenteando um brinco
Cegosurdo

Monday

HOLOCÁUSTICO

O medo é frio feito arame farpado
Nos contrai e nos contraria
Reveste o pai a cria com roupa de cedo
Mas é tarde a vida, um desassossego
Estoura os poros, gangrena as vísceras
E os líderes bons e maus destróem
Para reconstruir o mundo em oitavas míseras
Deuses ancestrais de pensamento primitivo
Deixa o povo cativo sem fundamento nem mais

Saturday

VIAGEM

Descanso ao mirante
Hora de controlar o navio dos prazeres e acender cigarro
Marolando em nuvens, o globo ocular sai do controle
Enquanto a pomba apara as cinzas com o bico
Traz a paz momentânea aos sentidos
NonSense preferido:
A solidão
A Eco
Ar

Friday

GLOBALIZAÇÃO


Enfia o dedo na tomada de atitude
Tem de se deixar ferida aberta amiúde
Para abraçar o todo mundo mudo tempo todo
Se falhar memória, faz-se trepanação
Informação despejada indecisória
Que não sabe se recicla, se biodesagradável
Imput microchip macrocosmo teleprevisível
Zapping de canal pelo EU fragmentado
Lava trouxa todo dia, que agonia
360 em torno de um dEUs tão cogitado

Pecado (Original)


O Criador tão miserável
Negou a Adão uma maçã e uma costela
Mal construiu Eva com ela
Acabou travestindo o paraíso
Para isso, desfrutou do proibido
E agora perde a humanidade inteira
Que de invenção prazenteira
Acabou tornando-se prejuízo

MUTAÇÃO


De tanto comer alface com molho agrotóxico
E da água carbono
E do carbono monóxido
Desfalesceu pela boca
À míngüa da lua propulsora das marés
Antes ficara louca
No acaso dando pontapés
Achando ser barbatana
No mar à solta

Desmascarado


O belo atrai, consegue à vista um preço
O apreço alto vem da aparência física
Não da meta, ainda a ser stingida
Quem é modelo nem sempre é o padrão
Há um prazo de validade vencida
Na lata de luxo do creme facial
A etiqueta de grife mal se rasga
Já engasga a gola da camiseta
Dentro da gafe por ostentação viral

Thursday

CORPO


Carne fraca suspensa por um feixe de ossos
Dança, copula e se alimenta de outros corpos
Para quê?
Frio abrigo da eternidade que não mais se vê

Depois da morte...
Prisão de poros donde escapam suor e lágrima
Ruminando líqüidismos que escoarão
Para debaixo da esfera terrestre

Wednesday

O Feminino


Vermelha em teus olhos a noite que a boca de fumo pitou
Silhueta a pichar uma grossa parede nua
Tua sombra grudada no muro feito seio ejaculou
Entre as pernas da rua erma com sede
Cedo ainda enquanto doas
A quem doer o íntimo do hímen antes do parto
Mais eis que nunca partes para muito longe
E continuas freira do mesmo exato monge
Devoto do teu amor